segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Crônica - Já escolheu o seu tiririca?



Havia inocência nas brigas de turmas das salas de aula. As meninas disputavam a preferência das professoras e as batalhas eram com presentes. Levavam às mestras flores e frutas que ficavam nas mesas, bonitas e apetitosas. Os meninos ensaiavam uma espécie de poder nas formações que chamavam de trincas. Fulano pertencia à trinca de sicrano. Beltrano era da trinca adversária. Neste caso, uma briga de rua, na saída da escola, era a melhor manifestação de supremacia para os vencedores.

Às vezes a verborragia era a arma mais poderosa. A fulana que falou mal de sicrana para beltrana rendia rompimentos de grave efeito. Então sicrana virava a cara com fulana e beltrana, após o necessário aviso: “Estou de mal de vocês duas”.

Os meninos evitavam as professoras e no ambiente escolar as provocações eram veladas. Empurrões desaforados, mas com disfarces de incidentes, desmanchavam as filas formadas nos pátios dos estabelecimentos de ensino antes da entrada nas salas de aula.

Era assim naquele tempo. Ninguém entrava antes numa sala. Havia sempre uma fila, puxada pela professora. E ela só puxava a fila depois que todos cantassem o Hino Nacional e a diretora transmitisse os recados diários. Então o sinal batia forte, feito sirene de fábrica, e os alunos seguiam para as suas salas.

Aquilo era disciplina. E olha de quem infringisse a ordem. A punição era certa e de acordo com a gravidade da infração podia se limitar a uma permanência de pé, ao lado da lousa e perto do armário onde os livros eram guardados, enquanto os colegas aprendiam as lições do dia.

Mas em casos mais extremos a diretora era chamada. O infrator, além de um severo sermão, era punido com puxões de orelhas. Além dessas ações de advertência, às vezes o aluno era suspenso. E o comunicado sobre a suspensão tinha que ser assinado pelos pais. Imagina o drama.

Ainda assim ocorriam brigas e puxações de tapetes. Mas num tamanho de maldade que era quase inocente. Falar mal de alguém, sujar a camisa do outro, derrubar a bolsa de fulano, rasgar o guarda-pó branco que fazia parte do uniforme escolar, riscar o caderno do adversário, jogar água nas pessoas que eram do contra.

Coisas primárias, não acham? Sim, primárias demais diante do que se observa no panorama político deste Brasil. Os dois adversários conseguiram transformar este país numa república de cotistas e de minorias. Se você é beneficiário de uma bolsa assistencial, você está incluído nos debates. Se você aprova ou desaprova o casamento entre pessoas do mesmo sexo, você está inserido. E assim por diante.

Agora, caso você seja um trabalhador, que precisa de um bom programa habitacional, uma relação de trabalho justa, uma economia estável, uma saúde pública de qualidade, uma segurança sem sombra de dúvidas e uma sociedade que oportunize uma vida sem tantos apertos, caia fora. Você está excluído.

Temos dois candidatos a presidente. Os dois discursam para uma pequena parcela dos brasileiros. Ou reagimos a isso ou compramos uma cabine dupla com som estourado e botamos nele toda a coleção nacional de sertanejo universitário.

O resto é fácil imaginar. Entra as opções, que tal aproveitar a formatura e estourar rojões dentro de um hospital universitário? Para os mais acomodados, está pintando uma nova edição do BBB, o de número 11. E ficamos com medo de alguém dizer que a culpa é da maioria, usando do seguinte argumento: quem sustenta o BBB até a 11ª edição e vota nos tiriricas tem que pagar pelas conseqüências.

Agora, fala aqui baixinho, no ouvido: em qual dos tiriricas você vai votar para presidente?

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