sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Crônica - Alicerces



Uma simples homenagem aos professores

Guardou numa pequena caixa de madeira um pedaço de giz de cada professora que fez parte de sua infância e parte da adolescência. Desenhou com uma agulha de costura o nome delas, de forma que cada pedaço tivesse a sua própria identidade: Marilza, Ana, Nilza, Matilde, Helena e tantas Marias.

Transformou tudo aquilo em relíquias. O giz da professora Marilza foi embrulhado com papel celofane verde. Deu a si mesmo a explicação para o uso daquela cor: esperança. Sim, porque foi com aquela professora que tudo começou.

Aprendeu nas aulas dela a escrever e a ler o a, depois o e, quando veio o i, o o e o u. Depois conheceu o b, o c, o d e todo o abecedário, que parecia um mistério quando a ponta do lápis quebrava na terceira linha e em pouco tempo se transformou em algo tão corriqueiro a ponto da caneta deslizar com leveza por uma folha inteira.

O giz da professora Ana foi embrulhado de azul. Porque era a sua cor predileta e naquele tempo menino evitava o avermelhado para não ter que dar explicação aos colegas sobre a escolha de uma tonalidade tão feminina. Foi com o giz da professora Ana que ele aprendeu a ler e a interpretar os primeiros textos.

O giz da professora Matilde recebeu uma capa amarela. Para essa cor nem ele teve uma justificativa sólida. Conformou-se em admitir que havia aproveitado uma sobra da capa que a irmã, já no quarto ano, havia comprado para um livro. E o giz da professora Matilde havia tido papel importante, quando riscou na lousa as operações matemáticas mais complicadas.

O giz da professora Nilza recebeu um capa de plástico transparente. E para ter consigo mesmo que não havia acontecido um desprezo na ausência de cor, alivia-se pensando que o material usado como capa era de melhor qualidade. Com o giz da professora Nilza conferiu os resultados de muitos problemas, navegou por mares distantes no atlas da geografia e conheceu alguns fatos do descobrimento do Brasil.

Até que chegou o tempo em que os tocos de giz deixaram de ter importância. Quando muito eles eram usados nas batalhas travadas pelos meninos a cada intervalo entre as aulas do colégio. Não fosse o zelo da mãe, nem a caixa de madeira com os embrulhos verde, azul, amarelo e transparente teriam resistido.

Pois foi justamente após uma aula na pós-graduação, sem giz e nem lousa, com computador e um sofisticado projetor de imagem, que ele, na volta para casa, comparou o ontem com o hoje para sondar sobre o amanhã.

Afoito, tirou a mãe já idosa do sofá para saber onde ela havia guardado a caixa de madeira: "Na última gaveta do seu armário, meu filho. Aquela onde você costuma guardar tudo aquilo que considera imprestável, mas nunca ousa se desfazer".

E ele tocou em cada toco de giz, como se apertasse o coração a cada toque, justo no momento em que terminava o 15 de outubro, Dia do Professor.

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