terça-feira, 29 de junho de 2010

Crônica - Meu carro de som

Ganhei um radinho de pilha da minha mãe. A marca é Sony, diz o meu pai que é coisa boa. A cor é vermelha, alfineta a minha irmã que é radinho de mulher. As pilhas são pequenas, uma com a ponta virada para cá, outra com a ponta virada para lá. O tamanho é o ideal para o bolso da calça. A antena niquelada sobe e desce. É com ele que eu tento melhorar a recepção das emissoras de preferência.

Vejamos: de manhã, aquela rádionovela com base em fatos reais. À tarde, o programa de músicas brasileiras. À noite, o programa de saudosismo. Estranho, as pessoas sentem saudade e eu, nesta infância que mereço um radio de pilha de presente materno, acho que o momento é muito bom.

Sem contar os fins de semana, quando o dial não sai dos programas esportivas. Sou um torcedor de escalar time na ponta da língua. Dou de lambuja a escalação do banco, o nome completo do massagista e o apelido do roupeiro. Vejo-me até como um narrador esportivo de rádio, daqueles que esperam as cortinas se abrirem para começar o espetáculo, que são eles, tanto quando os jogadores e o jogo em si.

Eu tenho um carrinho de rolimã. Instalei nele um volante velho de caminhão. Pesado, ele conduz o meu veículo virando o eixo dianteiro com cordas. Claro, para fazer uma curva eu preciso dar meia dúzia de voltas. Mas vira, pelo menos até a corda se romper e eu ficar sem direção.

O meu carrinho tem um som. É um radinho de pilha, vermelho, da marca Sony, de duas pilhas, antenas niqueladas e som estridente. Eu vou por estrada de chão batido, escutando radionovela, música e narração esportiva enquanto rodo o volante, que trave, arrebenta a corda, mas me leva sempre para algum lugar.

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