quinta-feira, 20 de maio de 2010

Opinião - O homem despido (Parte 1)



Moralidade, dignidade e ética são palavras. Apenas. Recheiam conteúdos de discursos, subsidiam teses de monografia, estampam manchetes de jornais.

Caça e caçador às vezes se confundem. O jeitinho brasileiro virou regra, embora a maioria das pessoas não tenha a consciência de que ele ocorre na porta de casa, na escrivaninha ao lado, na repartição logo em frente.

O homem despido não é aquele se põe fisicamente nu. É o desvestido de virtudes. É aquele que se desfaz do manto da sobriedade, que não é a inconsciência etílica, mas o despudor do sentimento de cidadania, coletividade, solidariedade e fraternalismo. Eu tenho, eu sou e eu posso. E assim ele age.

Nos anos de terror do regime militar no Brasil, a necessidade de mudanças mobilizava parte do Brasil. O país era dividido em alienados e engajados. Diziam que era alienado aquele que pouco se importava com as barbaridades que ocorriam nos porões da ditadura predominante.

Prisões, torturas e mortes de pessoas que se colocavam contra o governo não saiam nos jornais. A censura impedia, mantendo nas redações dos meios de comunicação funcionários que cumpriam a missão de analisar todo o conteúdo editorial.

Os engajados tinham diferentes formas de atuação. Manifestavam repúdio na música, na literatura, nas entrelinhas das matérias jornalistas e até na luta armada. Estudantes levantavam bandeiras, intelectuais resistiam às pressões políticas do momento.

Vinicius de Moraes cantava as garotas de Ipanema, enquanto Tom Jobin era aclamado pela elite cultural brasileira, aquela que tinha trânsito em um e outro lado. Ambos deixaram grandes contribuições para a música popular brasileira, assim como Chico Buarque de Holanda, cujo sucesso, naquele período, se fez com o uso do tema sobre os oprimidos.

Mas ninguém pagou tão caro por cantar a verdade quanto o fez Geraldo Vandré, o autor de Pra não dizer que não falei das flores. Chico nunca fez um show de graça para o público em quem ele se inspirava para fazer música. Tom recusou inclusive participar de shows de solidariedade a colegas artistas.

Eis um exemplo do homem despido. Nem todos, porém, pagam por terem feito o contrário do que apregoaram. Vivem de glórias e morrem na glória. Serão sempre heróis, porque o barro do qual foram feitos são retocados por mãos que sustentam mitos.

Em Londrina, um padre errou na condução da sua carreira. No passado ele subiu em palanques e até cantou para políticos. Mais recentemente se aliou aos ricos e passou a ser personalidade de destaque em cerimônias de casamento de pessoas abastadas. Ele se despiu de sua vocação e, num instante de erro mais profundo, ganhou as grades de uma cela de prisão e foi desnudado.

AMANHÃ, QUEM FAZ JORNALISMO, QUEM GANHA COM O SENSACIONALISMO.

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