quinta-feira, 27 de maio de 2010

O homem despido (Parte 6) - Tesouros perdidos

Alguns valores pessoais eram mantidos como herança até recentemente. Como a moral, tratada como relíquia a ser passada de pai para filho. Ou a religião, hoje relegada à condição de preferência do momento.

Numa tigela de barro cabem muito mais. Que tal a ética, antes uma regra, hoje quase exceção? O que dizem do comprometimento, da solidariedade, da dignidade, coletivismo, fraternidade e paixão pela vida?

Há quem culpe a modernidade, com o seu arsenal tecnológico, pela falência disso tudo. É uma verdade precária, porém absoluta em sua devida proporção. Como exemplo, temos aquilo que se defende hoje para o meio ambiente: desenvolvimento sustentável.

Há, portanto, uma preocupação com o ambiente. Não houve esta mesma atenção para o homem, que é parte do meio.

Então ele viu o avanço de perto, acessível para alguns poucos, mas distante para ele. Viu a riqueza de pouco passando diante de seus olhos, porém impossível de ser experimentada. Viu alguns enriquecendo da noite para o dia, numa sucessão de posses de bens materiais e consequente prestígio, enquanto ele empobrecia.

O que fazer para dar um bom estudo aos filhos? Como manter a saúde da família em boas condições? E o transporte, a segurança, o futuro? Como manter o conforto dos seus?

Os mais fortes tendem, nesta situação, a reforçar os seus valores. Moral, religião, solidariedade, comprometimento e coletivismo ganham mais atenção. Dentre esses, alguns se destacam como líderes em ações comunitárias que visam solucionar problemas, amenizar sofrimentos, criar oportunidades para todos.

Os mais fracos esperam por milagres. E surgem a cada novo dia, na esquina adiante e na baixada em seguida, os milagreiros. Padres e pastores que viram artistas do palco e arrebanham multidões nas concentrações das respostas impossíveis. Videntes, cartomantes e benzedeiros tabelam preços de consultas. Templos estouram sus sistemas de som nas manhãs e tardes dos dias da semana para atrair quem precisa comprar um punhado de benção.

A fé, antes manifestada numa religião, vira um produto. E tudo se compra na mesma área comercial, na medida em que os sentimentos perdidos podem ser recuperados num balcão de negócios.

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