terça-feira, 8 de setembro de 2009

Crônica-reportagem - De pulo em pulo chegamos lá


Dá uma guinada rápida para a esquerda e já puxa o volante à direita. Cuidado! Olha o meio-fio e a suspensão que custou mais de R$ 1.200,00 para ficar no ponto.

O motorista transpira e a mulher ao lado se enerva. A criança bate com a face na janela e solta um gemido. A batatinha escapou do saco plástico e invade o assoalho do carro. Tem várias delas batendo nos pés. A salsicha, depois dessa, só dá para molho.

Melancia? A verdona exibe assanhada o vermelho da polpa enquanto sacoleja sobre o carpete do automóvel, espumando o seu líquido doce e manchando o acabamento.

A aventura daquela família começou há meia hora, quando a mulher sujeriu ao homem que descesse pela avenida Tiradentes rumo ao centro. Ela queria aproveitar o trajeto para passar no supermercado.

O homem rosnou. Reclamou que já estava atrasado para a pelada do sábado com os amigos. O tempo fechou dentro do Golzinho. Mas o homem teimou e pegou a rua General Tasso Fragoso, de onde pretendia cair na avenida Maringá pela rua Ibiporã.

E as passocas, embaladas num cartucho de papel, voaram quando a roda esquerda bateu na quina de um buraco. Uma delas espatifou no teto, junto à cabeça do menino que no momento se preparava para uma mordida.

O trecho maldito da rua General Tasso Fragoso parece a foto da lua, com sua crateras intrigantemente expostas aos olhares dos curiosos. Fica entre a rua Foz do Iguaçu e a rua Professor Samuel Moura, esta paralela à avenida Maringá, na Zona Oeste de Londrina.

Dali, da Samuel Moura, a via recebe outro nome: Ibiporã, que corta no rumo do centro até terminar na avenida JK. O trecho, de duas mãos, é de intenso movimento. Passa carro sem parar de um lado e outro.

Alguns dos buracos no esfalto são enormes em profundidade e extensão. Como participantes de uma gangue, eles nunca estão sós. Se entrelaçam, encostam-se pela bordas e vão comendo a pista.

Há quem diga que os buracos são olhos gigantes à espeita dos descuidados: e lá se vai mais um amortecedor a ser pago com o cartão de crédito.

Outros comentam que os buracos do trecho maldito da rua General Tasso Fragoso são mandados. Bocas sussurram que os votos computados nas eleições não justificam uma obra séria e decente no lugar.

Aliás, o trecho maldito ladeia, um luxuoso condomínio habitacional, onde a maioria dos moradores se locomove com automóveis muito mais macios que o Golzinho da família da aventura do sábado, mas tão sujeitos a panes e danos sob condições de tráfego em terrenos acidentados.

Uma versão, não confirmada, imputa ao General Tasso Fragoso a responsabilidade daquele descuido do poder público com as famílias que moram perto e as pessoas que transitam pelo trecho.


Militar e escritor, Augusto Tasso Fragoso liderou um golpe lá por 1930 para impedir a posse de Júlio Prestes na presidência do Brasil. Assim ele chefiou uma Junta Governativa Provisória. Será que o homem foi tão ruim?

Esta rua é minha, sim senhor

Não moro no trecho maldito da rua General Tasso Fragoso e muito menos no decidão sacolejante da avenida Castelo Branco, que leva aos campus da Universidade Estadual de Londrina.


Estas duas vias, assim como tantas outras que cortam os bairros de Londrina e levam seus moradores de um lugar ao outro, têm constantemente seus buracos tapados.

Assim, quando não são as crateras, surgem as ondulações. Carro popular ou de luxo, motocicletas e até bikes sofrem os efeitos.

Em alguns trechos, os saudosistas lembram dos bons tempos das carroças de rodas de madeira e aro de aço. E como sacos de batata sacolejam. Bom para a digestão, desde que o passageiro ou o próprio motorista não estejam com o estômago ruim.

Esta e outras ruas de Londrina são minhas e de meus vizinhos, parentes, colegas de trabalho e de lazer.

Como cidadãos, pagamos impostos para caminhar por elas com tranquilidade e muita segurança.

Fazendo remendos e mais defeitos


Na manhã de terça-feira, dia 1 de setembro, o trecho maldito da rua General Tasso Fragosos recebeu a visita de uma equipe de operários para tapar buracos que se multiplicaram e cresceram após mais um período de chuvas.


Um caminhão basculante trouxe o material que foi jogado sobre as crateras. Se compactação, ele serviu como um quebra-galho, como das vezes anteriores, apenas suficiente para mascarar o problema. Após contínuos e frequentes tapa-buracos, o asfalto virou um queijo. Ficará assim até a próxima onda de chuvas.

A política editorial deste jornal é de retratar situações que são visíveis. Autoridades responsáveis poderão se manifestar na próxima edição.

No caminho de uma pedra


Por muito pouco Ivone dos Santos escapou de um pedra atirada pelos pneus de um carro que atravessou o trecho maldito.

Ela, que tem 42 anos, trabalha há 10 anos no condomínio residencial ladeado pela rua General Tasso Fragoso. Um dia Ivone ocupava-se de lavar a calçada. O carro veio, desviou de um buraco e ladeou no meio-fio onde ela estava.


Resultado da falta de compactação da massa que é jogada para tapar os buracos, as pedras escapam e ficam depositadas na beira do asfalto.

Com o impacto dos pneus, algumas são atiradas para longe e com força. Risco também para o pedestre que passa pelo local.

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