segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Crônica - A Lua é nossa

Eu disse que a Lua era minha quando ela estava cheia, sem saber que em vários pontos do Universo muitas outras pessoas a cobiçavam. Tomei posse dela vendo-a inatingível e distante, como se adquirisse um quadro para ser posto num lugar alto de uma parede inacessível, para evitar que alguém o tocasse.
Ignorei o fato dela desaparecer ao clarear do dia. Considerei que ela voltaria e seria minha, sempre avermelhada e gigante. Esqueci propositalmente as noites e as madrugadas de tempestades, quando a Lua ficaria escondida pelas nuvens. Ou alimentei a fantasia de que ela continuaria sendo minha, mesmo acima das chuvas e ainda mais longe de mim.
Foi assim, nesse ímpeto, quando a Lua se mostrava cheia, que eu resolvi te presentear com ela. Entreguei-a toda para você e disse: "A Lua é nossa". Percebi a sua alegria mas tive dúvidas: a Lua, vermelha e grande, causaria em você o mesmo fascínio que em mim? Contentei-me, por fim, em admitir para mim mesmo que a Lua, cheia, sempre inspira os românticos.
Então apostei o nosso amor na Lua grande, cheia e vermelha. Acompanhei-a dias após dia, tendo-a como elemento para mensurar a intensidade dos nossos beijos, o calor dos nossos afagos, o arfar dos nossos peitos. Fiz da nossa Lua vermelha e grande a nossa luz e abençoei a insônia.
Até que um dia ela não voltou. A Lua, cheia, vermelha e grande, se escondeu atrás do oculto do seu ciclo, de ir e vir de acordo com o seu movimento, sem se importar com a velocidade do estouro das labaredas do amor. Sorte que o coração resistiu e esperou pelo retorno dela, que chegou de novo cheia, vermelha e grande, ao ponto de mais uma vez eu te dizer: "A Lua é nossa".

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