Tão doce! Esparramado na boca leva à cabeça a sensação de plenitude. Cor de ouro, o licor faz flutuar e a inconsciência dos efeitos levanta questões lúcidas: mantê-lo na boca ou engolir?
Devaneios são temporais. Chegam e vão sem avisos. Duram o
tempo que for preciso e quem estabelece esta regra é o acaso. Inútil tentar
prolongá-los. Desnecessário pensar em abreviá-los, pois eles se vão muito antes
da percepção de uma indesejada presença. Partem enquanto há deleite.
Favo de Mel! Foi assim que eu a conheci. Tal qual o prêmio
das abelhas aos que ousam provocar os enxames, o beijo dela era alucinante.
Entrei indefeso e atordoado na armadilha que ela armou. Sem
luvas, cara e peitos descobertos, pés descalços avancei pela trilha que ela
riscou em seu bosque. Venci labirintos e refiz trechos, sujeito às condições
que ela impunha após cada trecho percorrido.
Foi um tempo sem medida, nem longo e nem curto. Se choveu
durante o caminho a água foi bem-vinda. Se a estiagem secou a umidade o calor
que veio foi agradecido. Frio nunca senti. Nem sono e cansaço. A preguiça
embrulhei e deixei num canto lá atrás.
No fim da trilha ela armou a sua arapuca: o coração aberto,
feito uma vasilha que mel não tinha a transbordar. Mas derramava amor, tão doce
e licoroso quanto o líquido alucinógeno de ouro catado dos favos que as
abelhas, desafiadoras e provocativas, escancaram aos olhos dos desprevenidos.
Enchi a boca com os beijos dela. Transbordei meu coração com
o amor dela. Favo de Mel! Assim ela se apresentou a mim. Agora ela me deixa
amargo num lugar sem armadilhas. Ela fechou a sua arapuca e me deixa fora. Eu
volto daquela consentida prisão e penso que nunca estive atado por inteiro. Só
senti o sabor precário da plenitude e fugi, como fazem todos os que apenas
aceitam o doce.
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