quarta-feira, 11 de abril de 2012

Quarta-feira - Sanduíche de linguiça e mosca

Banana pra nóis - Lá na casa do Antenor (1)

Mulher atravessada! Tem razão o Antenor se queixar de Maria Cristina desde o amanhecer. E não é porque ela se vira na cama durante o sono e forma um desenho esquisito: uma perna nas costas do marido e a outra fora do colchão. É pela implicância da dita com tudo o que ele faz.

Ligou a televisão para ver a Dilma reunida com o Obama e ela reclama. Mudou e passa a reconstituição de um assalto durante a noite e ela se manifesta, ainda com os cabelos amassados que nem personagem de filme de terror: “Desliga isso, mordeus! Desde cedo mais violência?”

Direto. Sem parar. Tudo porque Maria Cristina quer se espremer no Parque Ney Braga para tentar ver o tal do Teló. Não que o Antenor despreze o programa. O bolso é que está furado. Além dos ingressos do casal são oitenta mangos para enxergar os vultos no palco, vinte do estacionamento e dezesseis do lanche. Dois refrigerantes e dois sanduíches de lingüiça e mosca varejeira que custariam normalmente oito são vendidos por mais de vinte. E olha que o complemento vem fora da embalagem: cheiro de fezes de animais...

“Mas música sertaneja é cultura”, insiste Maria Cristina. Você só gosta de Tonico e Tinoco e não me dá chance nem de ver o Teló. Cretino!” É o nível. Antenor vai para o mesmo patamar e retruca com voz nada amigável: “Burra! Quando é que esse tal de Teló é sertanejo? Tonico e Tinoco sim, esses são. Ignorante!”

O silêncio dura muito pouco depois dessa conversa delicada. Mas serve para alguma coisa. Maria Cristina tenta consertar. “Eu olhei no jornal que música sertaneja é cultura. Aquele instituto que fez as provas do concurso público de Cambé diz isso. Está lá escrito, confere no jornal de anteontem.”

E vem mais bucha: “Então eu não sei mais se a burra é você ou o ignorante é o tal instituto. Música sertaneja, do tipo Tonico e Tinoco, é cultura sim. Esse Teló eu nem sei o que ele canta. Ou se ele canta... E você lê as coisas pela metade. Aqui diz que música sertaneja é cultura porque tem uma pergunta no concurso sobre o Zezé di Camargo e o Luciano”.

Mais silêncio. O clima não está para conversa. Intervalo relativamente duradouro, de mais ou menos quarenta segundos. E ela, enquanto coça a cabeça em cima do pó de café, tenta arrematar com tom de amizade e concordância: “É, mas a única coisa boa desses dois que eu vi foi o filme. Aquele homem em cima do telhado esticando o arame para sintonizar o rádio é o que mais lembro.”

Foi o tiro de misericórdia. Antenor fechou a cara de vez. Correu ao banheiro para passar água no rosto e fugiu para a sala, onde ocupou o sofá de ponta a ponta, deitado de lado, e ligou no Louro José. Consigo mesmo pensou que por ser uma ave é o único que se pode perdoar as bobagens que diz na televisão. E falou sozinho quando apareceu a Ana Maria Braga elogiando o Faustão: “Cultura pra que no meio de tanta burrice!”

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PARTICIPE: