quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Opinião - Levar vantagem ainda é regra

Um homem briga no caixa de um supermercado. Esbraveja, maltrata, xinga os funcionários e o gerente. Constrange a mulher e o filho. Acaba com a paciência das pessoas que estão na fila. Ele quer levar quatro unidades de cerveja da promoção, cada uma com seis latinhas da geladinha que para alguns esquenta e endoidece. O cartaz e o sistema de som anunciam que, de acordo com o Procon, cada cliente só pode levar uma unidade.

A briga é por cerveja. Não se sabe se o homem brigaria por arroz, feijão, macarrão ou leite. Leite, isso mesmo. Passados alguns dias, em outro supermercado outro homem decide protagonizar uma cena vergonhosa para ele e a família. Em seu carrinho duas caixas de leite longa vida também da promoção, contrariando o cartaz que anuncia uma caixa por cliente. Na frente dele a mulher, com outro carrinho, leva mais duas caixas de leite. Atrás, a mãe dele,com quatro caixas.

O homem abre uma cerveja e seca a latinha ali mesmo na fila. Disfarçadamente esconde a embalagem vazia entre os produtos expostos no corredor. Na boca do caixa, grita com as funcionárias: se não puder passar as caixas extras de leite, deixa tudo no carrinho e vai embora. Claro, sem pagar a cerveja que já bebeu diante da mulher, da mãe e dos filhos.

Até esse ponto o cidadão já cometeu pelo menos duas infrações: bebeu a cerveja de graça e bebeu cerveja minutos antes de levar as suas compras até o carro e sair dirigindo em plena hora de almoço de um sábado, quando o trânsito é caótico, com boa dose de geladinha fervendo a cabeça.

Quanto ao limite imposto para os produtos em promoção, a lei tem um objetivo: que a vantagem legalmente oferecida chegue ao maior número de consumidores possível. O homem que brigou para passar pelo caixa com oito caixas de leite poderia ser um comerciante. Em seu estabelecimento, poderia vender o leite comprado na promoção pelo dobro do preço que pagou.

Isso, no mínimo, caracteriza o extremo mais repugnante da Lei do Gerson: "Gosto de levar vantagem em tudo". Custe o que custar. Infelizmente, as duas cenas descritas não são raras. Acontece todos os dias, com alguém usando de prestígio para ser atendido na frente dentro de uma agência bancária e até mesmo no saguão de espera de uma unidade de saúde. Influência, amizade, oportunista e sem-vergonhice. De quem pratica e de quem permite que a prática se concretiza. É uma via de duas mãos.

Quantos neste Brasil afora denominam-se voluntários de candidatos a cargos públicos para depois cobrar um emprego? Assim deixam na rasteira as pessoas aprovadas em concursos públicos, porque surrupiam vagas e oportunidades que eram de outros. Sim, uma via de duas mãos: falta de respeito de quem pede a vaga em troca de favores políticos e de quem dá a vaga para pagar favores políticos.

Quantos que já estão nas repartições públicas passam por cima dos estatutos para agilizar uma transferência ou uma promoção? Outra vez via de duas mãos, pois fazem isso porque existem políticos que transformam essa prática vergonhosa em uma normalidade.

Então, neste início de outubro, um grande número de brasileiros dirá que pratica a democracia sem ter consciência de como ela deveria ser praticada. Uns votando, outros recebendo votos. Infelizmente. A barganha vem logo em seguida. E a cidadania que se dane.

Que pena! O cidadão, aqui, sofre muito!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PARTICIPE: