terça-feira, 6 de outubro de 2015

CRÔNICA – E quem não gosta de levar vantagem em tudo?

Gerson, bom de bola e habilidoso no gramado, pagou por todos nós só por ter aceitado ser propagandista com um tema polêmico num raro momento de reflexão da sociedade brasileira





            Como se fora a terra de ninguém e de todos, sem leis, sem valores éticos e morais e, sem alicerces culturais. Nos municípios, nos Estados e no País a situação parece igual: os grandes “trabalham” para levar grandes vantagens: os pequenos trabalham para ficar com as insignificantes vantagens.
            Os grandes “trabalham” tem aspas, sim senhor. Os pequenos trabalham nem aspas tem. O motivo todo mundo sabe. Mas se cabe um exemplo é para destacar que entre os grandes podem existir autoridades com aspas e autoridades sem aspas. Sejam empresário, políticos, agropecuaristas, patrões, empregados de cargos elevados e, por justiça, personalidades de fato.
            Uma caminhada a pé por algumas ruas de Londrina mostra o que é vantagem e o que é desvantagem. Na Avenida Maringá, a legislação aprovada pela Câmara de Vereadores durante a gestão de um ex-prefeito fez o recuo para o estacionamento de veículos nos estabelecimentos comerciais virar uma piada.
            Entrada de mercadorias nos mesmos estabelecimentos é um problema. Grandes fornecedores com empregados mal pagos e despreparados desrespeitam a lei na cara dura e descarregam frangos, carne, pacotes de arroz, colchões e outros produtores onde puderem.
            O piso tátil, também fruto da legislação em vigor para facilitar a vida das pessoas com deficiências visuais, não existe para quem enxerga tão bem a ponto de poder comprar e conduzir um carro. Alguns destes colocam seus veículos desaforadamente sobre o piso demarcado.
            Em outra vias de Londrina empresas revendedoras de carros seminovos estacionam suas mercadorias bem aonde o pedestre tem que passar para evitar um atropelamento. Há bares que instalam churrasqueiras nas calçadas. Areia e pedra em construções domésticas ou comerciais também impedem a passagem de pessoas pelos passeios.
            Na Rua João XXIII, que liga a Avenida Maringá a Avenida JK, na região central da cidade, a travessia entre uma escola e a parada de ônibus é demarcada com faixas brancas. Pouco adiante, onde se instalou uma churrascaria e no outro lado há uma igreja evangélica, a Prefeitura de Londrina mandou pintar faixa colorida para que os pedestres façam a travessia.
            O irônico: apesar da João XXIII ser rua de mão única e estacionamento permitido apenas à esquerda, nos horários de funcionamento da churrascaria ambos os lados da via são ocupados por carros estacionados. Inverdade: além da faixa de travessia colorida em frente à igreja, antes há o aviso de radar e a velocidade permitida é de 40 quilômetros por horas. Mas o radar não existe e a velocidades dos veículos é de disputa: “Vamos ver quem chega primeiro lá na JK”.
            No Calçadão Central de Londrina, em determinados horários há duas ou mais viaturas da Guarda Municipal fiscalizando não se sabe o que no local. Alguns passos adiante, na Rua Quintino Bocaiúva, seja manhã ou tarde há desocupados deitados nos bancos de cimento da área pública. Só não passa a Guarda Municipal por lá.
            Os agentes de trânsito de Londrina, que logo após o surgimento da corporação contribuiram em parte com a disciplina no sistema viário da cidade, embora muitos londrinenses receiam a predominância da indústria da multa, estão escassos e desvalorizados na gestão do atual prefeito, que prefere armar os Guardas Municipais.
            Para que? Tomara que não seja para os mesmos passearem armados, com suas viaturas, no Calçadão Central de Londrina. E quanto aos Agentes de Trânsito, é bom dizer que da mesma forma que houve falhas, como acontece em todos os segmentos nesta terra de ninguém, também restaram contribuições.
            A cidade é grande e pequena para tantos donos e tamanha escassez de valores morais e éticos. Qual será a fila que vou conseguir furar hoje? Conheço o assessor do chefe daquela repartição estadual. Vou ver se consigo apressar o encaminhamento daquele nosso processo.
            O Estado é enorme em dinheiro desviado, como mostram as investigações de desvios na Receita Estadual. Mas se eu apoiar tal candidato a deputado estadual nas próximas eleições e ele for eleito tenho certeza que consigo um emprego num órgão público. Até um deputado federal conseguiu vaga de diretor para seu filho e um prefeito vizinho tem mulher com cargo comissionado em Londrina.
            O País também é gigante em casos de corrupção. Mensalão, Petrobras, BNDES e o que mais? São tantas autoridades querendo vantagens... mas meu filho passou no concurso do banco estatal e eu tenho um vizinho que é muito conhecido de um político do atual governo. Vou conversar com ele para apressar a convocação do meu guri e que seja para uma cidade bem perto.
            E só o Gerson, coitado, que entre as habilidades de jogador de futebol sabia sair em vantagem com a bola nos pés para as suas jogadas certeiras, foi condenado por protagonizar um anuncio comercial dizendo que “gostava de levar vantagem em tudo”. Menos, Seu Gerson. Você só levava vantagem em campo, durante um jogo. Porque foi se meter a propagandista num país que é terra sem leis e de todo mundo?

Livro lançado em 1994 já tratava da origem da corrupção no Brasil





            Professor de Filosofia da Universidade Estadual de Londrina e mestre em Pensamento Luso-Brasileiro pela Universidade Gama Filho, do Rio de Janeiro, Antonio Frederico Zancanaro, atualmente aposentado, lançou em 1994 o livro “A Corrupção Político-Administrativa no Brasil”. O tema foi objeto de pesquisa de Zancanaro para a monografia de mestrado, na Gama Filho.
            Passados mais de 20 anos, o filósofo londrinense, que também atuou em Umuarama, continua autor de um livro que serve para todos os momentos deste País chamado Brasil, especialmente o agora, tão semelhante à época da colonização portuguesa que contribuiu, segundo Zancanaro, decisivamente na formação moral e ética de nós, brasileiros.
            “Perdida a capacidade oficial do Estado de solucionar os crônicos problemas sociais e econômicos e convivendo com a permanente manipulação do Direito, a sociedade desenvolveu uma mentalidade de faz de conta em relação à lei”, diz o autor na conclusão da monografia.
            “Quem não ingressasse nos negócios escusos sentia-se socialmente inútil e impossibilitado de progredir. Passou-se, então, a viver segundo padrões individualistas, cada cidadão ocupado em amealhar o seu quinhão, enquanto esperava nas medidas oficiais a solução de seus problemas”, prossegue Zancanaro.
            Antes, porém, na mesma parte conclusiva, o autor diz: “A corrupção político-administrativa no Brasil possui um viés cultural, como parte do legado do descobridor português. Presente nas práticas políticas e administrativas antissociais, implementadas pelos dirigentes do Reino, foi incorporada às idéias, índole, valores, filosofia de vida e de trabalho da sociedade lusa. E, com o descobrimento, foi repassada à sociedade brasileira nascente pelos aventureiros, mercadores, exploradores e funcionários régios através de um processo informal”.
            O duro é que, igual chulé, isso permanece fortemente impregnado na nossa cultura. O professor diz que só um sério projeto político-educativo de formação para a cidadania vai acabar com isso. A pátria educativa de agora e de praticamente todos os governos anteriores, portanto, não é recomendado. E como os horizontes são nublados, eu quero o meu naco: vou logo furar a fila do SUS com um conhecido lá do hospital que sempre me quebra o galho.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

REPORTAGEM – Três dias no lombo de um burrinho e a vida dos Nakama acontece em Londrina

Padeiro, carroceiro, cerealista, feirante, comerciante de
bar e empresário do ramo de combustível, entre outras atividades, fizeram de Maria e Saitoko, que chegaram em meados dos anos de 1940, grandes batalhadores; depois, lá nos anos de 1960, Maria fundou um salão de beleza, que a filha Helena mantém até hoje e a neta Andressa encara de cabeça após deixar a área de Direito, na qual se formou e se especializou.


Andressa e Helena ladeiam Maria: três gerações 
no instituto de beleza

Aos fundos, a casa construída por Saitoku Nakana
na Rua Guaporé; a construção da frente está sendo preparada
para aumentar o instituto de beleza

No quintal vizinho, a casa que serviu de alojamento
para os trabalhadores da empresa dos Nakama


 A ORIGEM

            Os 136 quilômetros em linha reta entre Londrina e a cidade paulista de Álvares Machado pareciam muito mais naquela época em que dona Maria Tomoyoshi Nakama, com a filha Helena, de oito meses, nos braços, e grávida do segundo filho, Fernando, viajou de lá para cá num caminhão. O marido dela, Saitoku Nakama, decidira fazer o percurso no lombo de um burrinho, pois havia planejado trabalhar no Norte do Paraná com a venda de frutas e verduras.
            A carrocinha que seria puxada pelo burrinho veio de trem. Mas o animal não podia ser transportado. Saitoku demorou três dias para chegar. É conveniente explicar que, atualmente, de carro, rodando em rodovias convencionais, a distância entre Londrina e Álvares Machado é de 172 quilômetros. Pisando leve o percurso pode ser feito tranquilamente em, no máximo, três horas. Mas a viagem de Maria e Helena no caminhão e de Saitoku no lombo do burrinho foi em 1944. Estradas eram, quando havia um traçado feito, muito precárias.
            Dona Maria lembra que o burrinho que pertencia ao marido era teimoso, pois não havia sido adestrado. A possibilidade de o animal empacar nas ruas de Londrina quando Saitoku saísse para vender as frutas e as verduras levantou preocupação. Foi então que o irmão de Maria se dispôs a trocar o burrinho adestrado que possuía pelo burrinho teimoso que era do cunhado.
            Saitoku, já falecido, nasceu no Japão e chegou ao Brasil quando estava com 17 anos de idade. A família se estabeleceu na região de Araraquara, no Estado de São Paulo. Um dia Saitoku escreveu uma carta a parentes que moravam na região de Álvares Machado. Ele queria aprender a trabalhar na construção civil, mas resposta à carta enviada aos parentes foi categórica: que ele mudasse para aquela cidade e aprendesse o oficio de padeiro, no qual parentes já trabalhavam.
            Maria nasceu na localidade de Prainha, na região de Santos, Estado de São Paulo, no dia 17 de dezembro de 1924. Com 90 anos de idade, esbanja vigor e mostra-se bastante disposta. Maria e Saitoku tiveram, além de Helena e Fernando (já falecido), o terceiro filho, Luiz Carlos.
            Em Londrina, a primeira moradia foi numa chácara. Mas pouco tempo depois a família adquiriu terreno na região da Vila Nova. A casa construída no local por Saitoku, já em alvenaria, ainda se mostra impecável na Rua Guaporé, próximo a Rua Araguaia.
            Maria sempre participou ativamente das atividades econômicas do marido. Ela lembra que quando Saitoku vendia frutas e verduras na carrocinha puxada pelo burrinho que o trouxe de Álvares Machado até Londrina, os fregueses saiam às ruas para esperar a chegada do verdureiro.
            Tempos depois Saitoku e Maria tornaram-se grandes empresários do ramo de cereais e de transporte. A sede principal da empresa ficava na Rua Guaporé, perto da primeira casa construída por Saitoku. Devido à movimentação, além da sede principal um outro local nas proximidades foi alugado para a empresa. Uma casa de madeira nos fundos de onde a família morava servia de alojamento para trabalhadores da cerealista. Dona Maria era a responsável pela alimentação dos empregados e pelas boas condições do alojamento.
            Saitoku ia buscar arroz no Rio Grande. A cebola, que na época era vendida em réstia, também vinha de lá. De Araraquara a empresa trazia açúcar para fornecer na região. Do Mato Grosso vinha quirela de arroz que era fornecida para uma cervejaria de Londrina. “Os caminhões grandes eram para trazer produtos de fora. Os pequenos eram para fazer a praça”, relata Maria.
            Saitoku também teve banca de feira livre no centro de Londrina. Foi também dono de um bar na Rua Quintino Bocaiúva e empresário do segmento de transporte. Por 12 anos, antes de se aposentar, foi para São Paulo onde comprou um posto de combustível perto da Ceasa. Com a aposentadoria Saitoku e Maria retornaram a Londrina. Ela mora hoje no Bairro Aeroporto. A casa que Saitoku construiu na Rua Guaporé é habitada pela filha Helena e pela neta Andressa, casada com Luiz Roberto e pais de Luiz Henrique e Luiz Guilherme.

DE MÃE PARA FILHA...  

Maria e o diploma obtido em 1963

O diplona da filha Helena, de 1966

            As mulheres da família sustentam um negócio que já está na terceira geração desde que Saitoku e Maria vieram de Álvares Machado para Londrina. Trata-se de um salão de beleza fundado por Maria na região central da cidade. Ficava na Rua Mato Grosso, no quarteirão em frente a uma das entradas do Shopping Royal.
            Maria tem diploma, datado de 20 de setembro de 1963, de cabeleireira. No salão dela também funcionava uma escola de cabeleireiros. Por isso o estabelecimento era enorme: havia 11 espelhos (bancadas).
            A filha Helena estudava piano e fazia o curso normal. Apesar de morar em Londrina ela ia até Cambé, onde tinha aulas com o maestro Andréa Nuzzi, autor do hino da cidade vizinha, e cursava normal na escola Gabriela Mistral.
            “Ela queria ser professora”, afirma Maria, sobre a filha. A passagem de Helena pelo salão da mãe ocorria nos fins de semana, para uma ajuda ou outra. Nem quando Maria adoeceu e precisou ir a São Paulo para tratamento Helena aceitou ficar com o salão que a mãe havia montado. Maria vendeu o estabelecimento: “Vendi barato e a prestação”.
            Não demorou muito e Helena deixou o sonho de ser professora para abrir um novo salão, na frente da casa construída lá pelos anos de 1940 pelo pai, Saitoku. Só na residência, que pelas contas de Maria deve ter 69 anos, a filha Helena está morando há 62 anos. O salão Helena Yamada – Instituto de Beleza, está para completar em breve 50 anos.
            “Antes não havia o costume das mulheres marcarem horário para ir ao salão. Como elas eram mais assíduas nesses locais, para arrumar os cabelos até para as missas e os cultos dos finais de semana, as mulheres iam direto nos salões e chegavam a formar fila”, lembra Helena. “Aqui a fila chegava na Rua Guaporé”, acrescenta.
            Helena, que chegou a Londrina quando estava com oito meses de idade, nasceu na localidade de Nova Pátria, perto de Álvares Machado, no Estado de São Paulo. Helena casou com Emílio Yamada, que faleceu há 11 anos. O casal teve os filhos Aristóteles (falecido), Andressa e Alexandre. São dois netos.
             
...E CHEGA A VEZ DA NETA

Andressa acumula certificados e
preocupa-se com a profissionalização do negócio
  
            Andressa Yamada Maccagnan, a filha de Helena, nasceu no dia 4 de outubro de 1976, em Londrina. Casada com Luiz Roberto Maccagnan, é mãe de Luiz Henrique Yamada Maccagnan e Luiz Guilherme Yamada Maccagnan.
            Andressa é formada em Direito e tem pós-graduação em Direito Empresarial. Também freqüentou a pós-graduação de Direito Previdenciário, mas não chegou a finalizar o processo para obtenção de certificado.
            Mas Andressa é cabeleireira. Ela trabalhou na área de sua formação. Por dez anos foi funcionário do cartório eleitoral em Londrina. Por um ano atuou no Centro de Atendimento à Mulher (CAM), também na área de Direito. Outros dois anos de trabalho foram na área de assessoria em um escritório de advocacia.
            A exemplo do que ocorreu com a mãe, Helena, Andressa também ajudava no salão nos fins de semana. Mas foi o nascimento do primeiro filho que fez Andressa largar a área de Direito e entrar com tudo na de beleza. Luiz Henrique nasceu em 2005 e um ano depois Andressa havia inclusive voltado a morar com a mãe, na Rua Guaporé, junto com o marido e os filhos.
            “Foi forte a questão da flexibilidade de horário na minha decisão. Eu queria ter uma atividade mas dispondo de condições para a minha família”, diz Andressa. Pesaram, também, as sugestões de algumas amigas: “A Isaura Kakuno foi uma das principais incentivadoras. Ela há tempos me dizia que eu devia me dedicar ao Instituto de Beleza junto com a minha mãe. Também me incentivava muito a Adriana Ferreira, que é professora na Universidade Estadual de Londrina”.
            Isaura é filha de Tsuguio Kakuno, alfaiate que foi personagem de reportagem neste blog. “A mãe da Isaura freqüentava o salão da minha mãe. E eu sempre tive uma admiração pela Isaura, pelo modo de ela ser, se vestir e se cuidar sempre com muita elegância”, diz Andressa, que enfatiza, ainda: “Além desses motivos todos a oportunidade de trabalhar com minha mãe foi muito influenciadora, principalmente por tudo o que ela fez por mim”.
            Andressa freqüentou dezenas de cursos para estar em dia com as técnicas e as novidades da área de beleza. Além de se dedicar ao Salão ela é executiva da Jeunesse e mantém uma loja virtual de produtos de beleza. É também voluntária e nesta condição ministra cursos de profissionalização na área de beleza.
            Andressa diz também que dona Olga, mãe do profissional Lincoln Tramontina, a incentiva muito, principalmente para que ela focasse o salão de beleza com visão empresarial e, enfim, como um empreendimento. 
            A participação de Andressa no negócio da família contribui, assim, também para a tomada de decisões empresarias. “Com a minha mãe o salão era bem doméstico. Hoje eu e ela trabalhamos com recursos de administração do empreendimento, como na questão do estoque. Mas de forma alguma minha mãe abandona a relação com a clientela, de algo próximo na beleza das pessoas. Tem freguesas que mudaram de bairro e continuam vindo aqui”.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

REPORTAGEM – O homem lá em cima na frente da telona do cinema

Alcides Cândido operou por quase três décadas os
projetores de cinemas de cidades
da região de Londrina




Nas fotos, Alcides em frente ao painel do antigo
Cine Vila Rica, em Londrina; o projetor chegou a conhecer Mazzaropi, que vinha trazer pessoalmente
os rolos de seus filmes

Alcides Cândido de Souza, casado com Eurides Saraiva e pai de três filhos, todos nascidos em Cambé, é hoje, aos 68 anos de idade, um respeitado zelador de edifício no centro de Londrina. Mas, por 27 anos, ele trabalhou naquele lugar dos cinemas onde muitos garotos gostariam de ficar durante as exibições: a salinha lá em cima, onde ficavam os projetores das fitas em exibição.
Ele trabalhou em Cambé, Rolândia, Londrina e cinemas de outras cidades da região, como funcionário da Empresa Araújo Passos. Os último cinemas por onde Alcides passou foram os cines Vila Rica e Londrina, onde foi gerente.
Em Cambé Alcides trabalhou de 1967 a 1977. Ele lembra que a salinha de projeção esquentava, pois os projetores funcionavam com dois elétrodos de 70 a 90 amperes. “Só tinha a janelinha da projeção e a do operador acompanhar a tela. Raramente dava para sair da salinha”.
Mas se havia garotos que queriam estar no lugar dele, Alcides desenrola o novelo e conta que após as exibições os operadores tinham que rebobinar os filmes, manualmente. O filme “Os Dez Mandamentos” tinha 24 rolos, cada um com cerca de 20 minutos de duração, conforme calcula Alcides.
Além do Vila Rica e do Londrina, Alcides trabalhou também em Londrina no Cine Augusto, Cine Jóia e Cine Espacial, que funcionava na Vila Nova. Em Cambé, conforme relata, ele chegou muito pobre. Morava nas proximidades da Rua Caçadores e teve que improvisar uma cama sobre latões de tinta. O colchão era de palha e tinha que ser batido diariamente para acomodar o recheio de acordo com a preferência do corpo que nele deitava.
O Bar do Pinga era o local de estadia nas horas de folga. O namoro do operador de projeção foi lá pelas bandas da Fonte Luminosa da Praça Getúlio Vargas até o Caramanchão da Igreja Matriz Santo Antônio, durante as quermesses em Cambé. Quando estava trabalhando Alcides olhava, de uma janela do prédio do cinema, a pretendida passando pelas redondezas.
“Ela – a dona Eurides - morava perto de casa e quando eu ia trabalhar no cinema a via varrendo o quintal ou a frente de casa, perto da cerca de balaústres. Eu passava e olhava para ela, que correspondia. Chegando lá em cima, pelas proximidades da Rua Caçadores, eu olhava para trás e acenava. Ela correspondia”.
Dessa troca de gentilezas aconteceram, depois, as trocas de presentes e o namoro, que durou cerca de oito meses. Um dia Alcides e dona Eurides fugiram para casar.
Segundo Alcides, no período em que ficou em Cambé um dos filmes com recorde de público no Cine Universo foi “Uma Longa Fila de Cruz”, que conta a história de caçadores de recompensa atrás de um bando especializado em assassinar mexicanos que cruzam a fronteira americana.
É uma produção italiana de 1970, dirigido por Sergio Garrone, e trás no elenco Anthony Steffen, Willian Berger, Ricardo Garrone, Nicholetta Machiaveli, Mario Brega e Fred Robsham. O filme “Fugindo do Inferno”, com Steve McQueen, trata do nazismo e de seus campos de concentração e também deu boa bilheteria em Cambé.
O outro lado da história é que o operador de projeção assiste filmes de graça. Mas até a exaustão. Alcides assistiu o filme “O Exorcista” umas 200 vezes. “Na maioria das vezes a gente conhecia o filme até de trás para frente”.
Em Londrina, Alcides conheceu Mazzaropi. Chegou a beber café na Padaria Olímpia com o astro brasileiro. É que nos últimos filmes do astro, depois que Mazzaropi montou seu próprio estúdio cinematográfico e produtora, ele próprio, mesmo sendo astro, levava os seus filmes para as salas de exibição. “Trazia três rolos do filme na mão direita e dois na mão esquerda”, diz Alcides. 
Era uma forma de Mazzaropi garantir que seus filmes não fossem manipulados pelas empresas cinematográficas. Naqueles tempos, segundo Alcides, algumas salas de projeção compravam filmes nacionais somente para cumprir as determinações do Conselho Nacional do Cinema. Estes filmes, porém, não chegavam a ser exibidos.

A última sessão de cinema



Nas fotos, cenas de 
“Os Caçadores da Serpente Dourada”

Cambé está sem cinema desde 1983. A última sessão na cidade foi no feriado de 15 de novembro daquele ano. A atração era quase um lançamento: “I Cacciatori Del Cobra D’oro”, no título italiano original, ou “Os Caçadores da Serpente Dourada”, no português.
O filme havia sido lançado em 11 de agosto de 1982. Produzido por Gianfranco Couvoumdjian e dirigido por Antonio Margheriti, o roteiro do próprio Gianfranco junto com Tito Carpi é tido por alguns críticos como uma cópia invejosa de “Os Caçadores da Arca Perdida”, de Steven Spielberg, lançado pouco antes.
A estória se passa na Segunda Guerra Mundial, nas Filipinas. Os heróis são os britânicos e os norte-americanos: David Warbeck faz o papel de Bob Jackson e John Steiner é o Capitão David Franks. Ambos são convocados por suas respectivas embaixadas, nas Filipinas, para invadirem uma base japonesa. Lá teriam que eliminar o agente duplo traidor japonês Yamato. O elenco tem também Antonella Interlenghi, que faz o papel de Julie. 

Depois de tiros, armadilhas, vitórias e derrotas os heróis chegam a um baú de Yamoto, que havia fugido de avião. E o que encontram dentro? Uma serpente de ouro maciço! No cinema de Cambé cabiam 1.500 pessoas. Mas apenas 30 assistiram a última sessão.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

REPORTAGEM – Paulista, o caminhoneiro Luiz Oguido fez da Vila Nova, em Londrina, o seu porto seguro

Lá atrás, no início dos anos de 1950, ele vinha comprar
feijão e arroz em Londrina para abastecer o comércio da família, em Álvares Machado. Aqui conheceu Tieko, com quem teve a filha Ivete, que aumentou a família com o genro Antonio Carlos
e os netos Túllio, Thales e Alana


            Lá pelos anos de 1950, bem no comecinho da década, Luiz Tetsuo Oguido era um jovem trabalhador cuja ocupação reunia o útil ao agradável. Filho do comerciante Seiki Oguido, que era marido da senhora Uta Oguido, Luiz era o encarregado de vir da região de Álvares Machado, no Estado de São Paulo, para o Norte do Paraná comprar mercadorias para garantir aos fregueses um estoque de arroz e feijão colhidos na terra roxa de Londrina.
            Luiz vinha conduzindo o caminhão. E, além do serviço, conquistava amigos e começava a gostar de Londrina. Mais ainda: em 1951 conheceu Tokie, moça de uma família de pioneiros que chegou ao Norte do Paraná lá pelos fins dos anos de 1930. Luiz e Tokie tiveram filha única, a Ivete, que acabou se casando com Antonio Carlos Costa. Ambos são pais de Túllio, Thales e Alana.
            Voltando no tempo, cabe mencionar que Luiz casou com Tokie e a levou para o interior de são Paulo. Quatro anos passados, em 1956, o casal fez a mudança para Londrina. Foi aqui onde nasceu a Ivete. Há 12 anos Luiz está viúvo de Tokie. Há cinco anos ele decidiu morar com a filha, o genro e os três netos.
            Luiz é de uma família de oito irmãos, dos quais três já falecidos. Os dois irmãos mais velhos de Luiz nasceram no Japão. Quando Luiz e Tokie trocaram o interior de São Paulo por Londrina o irmão mais velho dele, Seiko, casado com Tsuro, já estava na cidade. Seiko teve nove filhos, dentre eles o já falecido Homero Oguido, que por anos representou o Norte do Paraná como deputado estadual na Assembléia Legislativa do Estado.
            Pois então. Caminhão e viagens. Luiz, que quando solteiro vinha a Londrina comprar arroz e feijão para o comércio que os pais mantinham em Álvares Machado, depois de casado ganhou do pai um caminhão e continuou a levar mercadorias do Norte do Paraná para São Paulo.
            Anos depois Luiz adquiriu outro caminhão e passou a trabalhar com transporte. Também foi funcionário da extinta Cooperativa Agrícola de Cotia, atuando no setor de preparação de sementes, mas com a tarefa de fazer transporte.
            Não é por coincidência que ele se aposentou como caminhoneiro. E apesar de enfrentar quilômetros de estradas por toda a vida profissional, este paulista nascido em Presidente Prudente no dia 25 de julho de 1930 tem Londrina, e especialmente a Vila Nova, como o seu porto seguro. Desde que chegou com a esposa Tokie e a mudança para a cidade, Luiz fixou residência no bairro onde vive até hoje.
            “Agora está tudo em cima de piche”, comenta sobre a diferença das estradas de hoje e de ontem, quando ele levava arroz e feijão do Norte do Paraná para
São Paulo.



Na foto, Luiz Oguido e a Rua Araguaia, na Vila Nova 

sábado, 22 de agosto de 2015

REPORTAGEM – Tsuguio Kakuno tem mais de seis décadas de Vila Nova

Pioneiro chegou a Londrina em 1952, quando estava com
17 anos de idade. Aprendeu o ofício de alfaiate com
o irmão e recebeu prêmio por ser considerado o mais
antigo profissional ainda em atividade





Nas fotos: Tsuguio Kakuno, que completa 80 anos
de idade no dia 2 de setembro de 2015; o Troféu Marilisa do Amaral Campos, concedido pelo Lions Rotary Club de
Londrina – Alvorada; a máquina de costura PFAFF,
comprada de segunda mão de um colega; tecidos e manequins, como nos velhos tempos

            De terno e gravata o pioneiro londrinense Tsuguio Kakuno ia à praça do centro de Londrina nos fins de semana para se encontrar com amigos e fazer novas amizades. E o mais importante: o programa das noites de sábado e domingo tinha como alvo o amor de alguma moça. Se a flecha do cupido acertasse em cheio o coração da pretendida a saída para os passeios seria em companhia promissora.
            Tsuguio, que neste 2 de setembro de 2015 completa 80 anos de idade (ele nasceu no ano de 1935), havia chegado de Araçatuba, Estado de São Paulo, em 1952. Foi lá que ele nasceu. Em Londrina, o porto seguro foi a companhia do irmão Yukio, que havia vindo antes, e mantinha uma alfaiataria na esquina da Rua Guaporé com a Rua Belém, na Grande Vila Nova.
            “O calçamento com paralelepípedo só chegava até a Rua Amapá, um quarteirão abaixo da Belém. Naquela época a Guaporé era também chamada de Pernambuco”, lembra Tsuguio. Ainda com poucas vias calçadas, o barro na temporada das chuvas e a poeira na estiagem eram desconfortáveis para um recém chegado. “Eu estava acostumado com São Paulo. Um dia, com sede, fui ao bar em frente da alfaiataria do meu irmão e pedi um refrigerante. E veio tudo sujo”.
            Mas os passeios no centro de Londrina, apesar da poeira, eram com terno e gravata. O Cine Ouro Verde, por exemplo, seguindo etiqueta de algumas tradicionais salas de exibição de São Paulo, nos seus primeiros anos de funcionamento só permitia a entrada de cavalheiros de terno e gravata, segundo Tsuguio.
            Não por coincidência, mas aproveitando o conhecimento do irmão, Tsuguio veio de São Paulo a Londrina com o propósito de aprender o ofício de alfaiate. “Antigamente o rapaz encomendava um terno para o noivado e seis meses depois, no casamento, encomendava mais dois: um para o casamento no civil e outro terno para o casamento no religioso”, relata Tsuguio.
            Londrina tinha na época em que o pioneiro chegou cerca de 75 mil habitantes, pouco mais da metade morando na zona rural. Pelas contas de Tsuguio, existiam 52 alfaiates na cidade. Só a Rua Duque de Caxias tinha 11 deles estabelecidos. Tsuguio, que após assumir a alfaiataria de Yukio quando o irmão decidiu ir para Curitiba, chegou a ter quatro funcionários no estabelecimento da Rua Guaporé esquina com a Rua Belém.
            Nesse local Tsuguio exerceu o ofício por 40 anos. Mas há 23 anos ele está instalado com a alfaiataria na Rua Araguaia. Até a vinda para Londrina, quando estava com 17 anos, Tsuguio trabalhou na roça. “Comecei a trabalhar muito cedo. Quando eu nasci meu pai tinha um sitiozinho. Mas teve que vender e passou a ser arrendatário. Ele trabalhava com algodão e a gente ajudava. Comecei cedo na lavoura também porque minha mãe morreu quando eu tinha sete anos de idade”.
            No dia 11 de novembro de 2011 Tuguo foi homenageado pelo Rotary Club de Londrina – Alvorada com o Troféu Marilisa do Amaral Campos. Na época ele foi considerado pela entidade como o mais antigo alfaiate ainda em atividade em Londrina.
            Como todo bom alfaiate Tsuguio tem duas máquinas de costura PFAFF em sua alfaiataria. A que ele usa foi comprada de segunda mão de um colega alfaiate. “Todo alfaiate tem uma PFAFF”, orgulha-se. Ele diz que a máquina que está usando vai costurar por um bom tempo mesmo depois que ele aposentar. A PFAFF veio importada da Alemanha.
            Tsuguio também tem dois ferros de passar daqueles usados por alfaiates. Um deles, que está guardado, pesa sete quilos. O que está em uso é um pouco mais leve: perto de cinco quilos.

A origem e as novas gerações



Nas fotos, a passadeira típica dos tradicionais
alfaiates e o ferro de passar com quase cinco quilos de peso

            Tsuguio Kakuno é filho do senhor Kota e da senhora Issae Kakuno. Nascidos no Japão, ambos chegaram ao Brasil, casados, poucos anos antes da guerra. Tiveram os filhos Yukio, Tuguo, Mitsue e Midori. Kota serviu na Marinha japonesa e só escapou de ser convocado para a guerra por estar no Brasil. Ele contava aos filhos que irmãos, cunhados e outros parentes que estavam no Japão e foram para a guerra morreram em combate.
            Tsuguio casou com Izumi quando estava com 20 anos de idade, já morando e trabalhando como alfaiate em Londrina. Ela faleceu há oito anos. O casal teve os filhos Izaura (formada em letras), Massao (engenheiro civil) e Paulino (cirurgião dentista). São três netas e um casal de bisnetos.
           
Certas lembranças


            “Não tinha um prédio pronto com elevador em Londrina quando eu cheguei em 1952”, lembra Tsuguio Kakuno. “Tinha quatro prédios começados: o Autolon, o Manela, o São Jorge Hotel e o Santo Antonio”, acrescenta.

            “O Cine Ouro Verde tinha acabado de inaugurar. Nos primeiros anos só entrava com terno e gravata, igual fazia no Cine Marrocos, em São Paulo”, reforça o pioneiro. “Aqui só tinha a Rádio Londrina”, relata. “Mais da metade da população de Londrina na época morava no sítio. Londrina tinha 75 mil habitantes”, reforça.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

REPORTAGEM – A Rua Juruá tem tudo a ver com o mecânico Nico

Filho do Seu Chiquinho Carroceiro chegou a Londrina
quando estava com dois anos de idade e foi morar na casa
de sape coberto com folha de palmeira lá na Vila Nova


Em pose para foto atrás do Nico, filho mais velho do
Seu Chiquinho, Nilce, que, estudou e lecionou no
Grupo Escolar Nilo Peçanha, na Rua Araguaia;
Guilherme, que também passou pelo Nilão,
assim como o Valdir, que abraça
a filha Gabriela
Francisco Breve, o Seu Chiquinho, 
com a esposa Ana (foto Álbum da Família)
Seu Chiquinho, a caráter: chapeuzinho
de feltro (foto Álbum da Família)
Iracema e o esposo Nico, com dois dos
filhos - Nico é o maiorzinho
(foto Álbum da Família)

            Antonio Aparecido Breve é todo prosa quando o tema da conversa é o lugar onde ele vive há 75 anos: a Vila Nova, em Londrina. Ele é mais conhecido como Nico. Nasceu em Porto Ferreira, Estado de São Paulo, no dia 31 de maio de 1938. Quando estava com dois anos, a família trocou o interior paulista pelo Norte do Paraná.
            Nico, casado com Iracema Almeida Breve, que faleceu há nove anos, é o filho mais velho de Seu Francisco Breve. E então? Quem é este cara? Melhor lembrar do Chiquinho Carroceiro, da Rua Juruá. Sim, o Seu Chiquinho que tinha também um pé de bode, daqueles de usar manivela para o motor pegar.
              Pois quem mora ou já morou na Vila Nova lembrou daquele senhor de chapeuzinho de feltro, sempre sorridente, tocando em frente sobre a carrocinha puxada por um valente burrico.
            Chiquinho, segundo o filho Nico e a neta Nilce, nasceu no dia 12 de julho de 1914 e faleceu em 14 de setembro de 1988. Foi casado com Ana Faian Breve, que faleceu em 2003 quando estava com 85 anos de idade.
            Depois de Nico nasceram Lúcio, Santo e a menina Olga, que faleceu ainda novinha logo após a chegada da família a Londrina. Chiquinho e Ana contabilizam dez netos, dois deles já falecidos. Há bisnetos e três trinetos.
            A pedagoga Nilce de Almeida Breve, filha de Nico, é uma das netas de Chiquinho e Ana. Ela é casada com Valdir Malaquias. Nilce é mãe de Guilherme e Gabriela.
            E como todo bom morador da Vila Nova no tempo em que o bairro ainda tinha mais capoeira do que quintais enfeitados com jardins ou enriquecidos com hortas, Nico foi aluno do Grupo Escolar da Vila Nova, depois batizado de Grupo Escolar Nilo Peçanha, na Rua Araguaia.
            Aliás, no bate papo na casa da filha Nilce, onde na sala se encontram também Valdir Malaquias e Guilherme, todos vão avisando rapidinho que também estudaram no Nilo Peçanha. Nilce também foi professora no estabelecimento de ensino que agora integra a rede estadual.
            “Fomos praticamente os fundadores da Vila Nova”, diz Nico. A casa que Seu Chiquinho comprou na Rua Juruá era de sape, coberto com folha de palmeira. “Eu andava a pé, com estilingue. A Rua Guaporé era todo barro”, recorda Nico. “Nós vimos a chegada do primeiro ônibus. Quando chovia, descia todo mundo para empurrar”.
            Seu Chiquinho comprou de Paulo Agari três terrenos na Rua Juruá. “O Paulo Agari era dono de tudo”. Por isso aqui é a Vila Agari”, informa Nico. Segundo ele, outro proprietário de terras na região da Vila Nova foi Luiz Marques de Mendonça, que doou áreas para a construção do Nilo Peçanha e do posto de saúde (Ubs) do bairro, além de outras doações importantes.

Mecânico por toda a vida

Os quintais reuniam a família e também
eram usados para a engorda das criações
(foto Álbum da Família)
Mecânico por mais de seis décadas,
Antonio Aparecido Breve fala com amor
do bairro onde esteve a vida toda

            Nico foi mecânico desde os 11 anos de idade e diz que parou devido a um problema na vista há um mês, quando deixou a casa da Vila Nova e foi morar com a filha, na Zona Norte de Londrina.
            “Quem abriu o campo de futebol foi o meu tio, Nego”, diz Nico, sobre o Campo do União, que existiu no quadrilátero formado pelas ruas Juruá, Solimões, Javari e Turiaçu.

            Informa também que o pai, Chiquinho, antes da abertura do campo plantava arroz e feijão no terreno. “Era tudo capoeira”, afirma sobre a região. “Era uma casinha aqui e outra lá”, acrescenta. “A Rua Araguaia era capoeira dos dois lados”. E vai longe a prosa com Nico, filho do Seu Chiquinho. 

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

REPORTAGEM – Uma praça no outro lado do muro

O casal Luiz e Bete, pais de Margarete, Ademar e Jorge
e avós de Henrique, Fábio, Luana e outros que virão
para marcar a história com capítulos importantes





Nas fotos, Bete e Luiz, diante da estante com troféus
conquistados por ele no beisebol; a praça, formosa com a sua vegetação; os arbustos, no centro, com enormes troncos; o Santuário de Nossa Senhora Aparecida

Bem pertinho do Santuário

            Diante da bela praça pública o homem estufa os peitos, prende a respiração e mostra ao interlocutor a vida verde e marrom da vegetação que, sem radicalismo e soberba, predomina suave sobre o cimento ao redor. Verde das folhas e marrom dos galhos e dos troncos. Concreto armado para cobrir e solo, esconder a terra, dar passagem as pessoas por trilhas sem poeira ou barro.
            O homem se chama Tsuguio Sato. Descendente de japoneses, ele não tem no registro de nascimento um nome em português. Mas mereceu um de batismo, Luiz. “Quando cheguei aqui as árvores, aquelas que estão no lado da praça, tinham os troncos da grossura de um dedo”, conta Luiz. No meio do cenário, real, há arbustos de troncos da grossura que um homem só não consegue abraçar.
            A chegada foi em 1968, dois anos depois de Luiz ter trocado o município de Sertaneja, na região de Cornélio Procópio, por Londrina. Em1966 Luiz veio morar na Rua Paranapanema, na Grande Vila Nova, em Londrina. Grande, porque a Vila Nova reúne incontáveis comunidades denominadas de vilas ou jardins.
            Luiz estava casado desde 8 de dezembro de 1962 com Yoshico, que também não tem nome português no registro de nascimento mas ganhou um de batismo, Bete. Ele nasceu no Distrito de Motuca, lá no Município de Araraquara, em São Paulo. Foi no dia 10 de maio de 1936. Ela é paranaense. O casal tem três filhos, Margarete, Ademar e Jorge. São três netos, Henrique, Fábio e Luana. O filho mais novo, Jorge, nasceu na casa em frente à praça da Rua Grajaú, na Vila Nova, quase vizinha ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida.
            Os Sato chegaram de São Paulo à região de Cornélio Procópio lá pelos anos de 1940. A família havia comprado mata virgem em Sertaneja, onde foi feita a derrubada e o plantio do café. A geada de 1955 foi desanimadora, mas os cafeicultores da região insistiram com a cultura. Cerca de cinco anos depois outra geada, tão forte como a de 55, causou mais prejuízos. Mas foi mesmo a de 1975 que tirou muita gente das lavouras, segundo lembra Luiz. Em 1955, quando ocorreu a primeira geada nos cafeeiros da família, Luiz estava no Exército, servindo no Boqueirão, em Curitiba.
            Quando veio casado com Bete para Londrina, o casal morou de aluguel na casa da Rua Paranapanema. A mudança para a moradia da Rua Grajaú, dois anos depois, foi também com contrato de aluguel. Mas tempos depois o proprietário ofereceu a casa para venda e Luiz fechou o negócio. Era uma moradia de madeira, que com o passar dos  anos recebeu melhorias em alvenaria. Chegou, enfim, um ponto em que Luiz e Bete decidiram derrubar tudo que havia para erguer a casa que eles tanto queriam no lugar.
           
Juntos desde o grupo escolar

            Bete e Luiz completam este ano, no dia 8 de dezembro, 53 anos de casados. Ambos contam que há três anos, nas Bodas de Ouro, decidiram eliminar os festejos comemorativos e viajaram para conhecer o Nordeste brasileiro. “O dinheiro que ia ser usado na festa nós doamos para a Igreja e para outros necessitados”, dizem Bete e Luiz.
            O amor de ambos foi resultado de uma convivência. Bete e Luiz estudaram na mesma escola municipal de Sertaneja. Depois, na adolescência e na juventude, ambos continuaram amigos ainda em Sertaneja participando da Associação dos Moços e da Associação das Moças do clube japonês da cidade.
            Luiz e Bete fazem questão de informar que naquele dezembro de 1962 ambos selaram a união conjugal com uma prática que era rara entre os membros da comunidade japonesa. Além do casamento no civil, que é praxe, Luiz e Bete também casaram no religioso, na Igreja Católica de Sertaneja.

Quase seis décadas de beisebol


            Luiz nem sabia como jogar beisebol quando chegou ao Norte do Paraná em fins dos anos de 1940. Mas, tempos depois, em 1953, graças ao convívio com os membros do clube japonês de Sertaneja, começou a treinar um esporte que só largou quase 60 anos passados, lá por volta de 2010.
            Nesse período colecionou medalhas e troféus, inclusive em competições internacionais. Também foi árbitro de beisebol, atividade que lhe rendeu um troféu que só ele e outro londrinense, Hiroshi Nagano, receberam da Associação de Árbitros.
            Uma das participações de Luiz como atleta em eventos mundiais foi no México, no ano de 1994. Na estante da sala da casa da Rua Grajaú, parte dos prêmios de Luiz podem ser vistos. Mas a esposa Bete diz que há muito mais pela casa, inclusive encaixotados.

Difícil falar da praça de ontem e de hoje

            Comparar a praça do passado com a de agora, nas palavras de Luiz, é difícil. “Mudou bastante”. Na beira da Rua Grajaú uma fileira de árvores foram arrancadas, para a construção de uma área de estacionamento de carros. “Quando mudei para cá a praça era florida”, diz.
            Havia também zelador e zeladora, além de guarda 24 horas. O tanque de peixe tinha carpas ornamentais. Nos tempos das quermesses, quando Roberto Carlos, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso e Wanderleia disputavam a preferência dos ouvintes das rádios AMs e já se ouvia Elvis e Beatles, mesmo com certa timidez, os moços ficavam postados em pontos estratégicos da praça, de braços cruzados, cinturão largo, calça Saint tropez e boca de sino, as moças passavam pelos corredores formados pelos rapazes.
            Daquele movimento, conhecido como footing, alguns namoros resultaram em casamentos. As igrejas da Vila Nova e do Jardim Shangri-la se revezavam nas quermesses, normalmente nos meses frios do meio do ano. Quando terminava a “grandiosa quermesse da Vila Nova” começava na semana seguinte a “grandioso quermesse da Paróquia Rainha dos Apóstolos”.
            Havia muito frango assado e batata frita, servidos num clima de namorico com os bilhete trocados no sistema que a rapaziada chamada de correio elegante. A festa na praça acontece, agora, uma vez por ano, em 12 de outubro, data da padroeira. Nossa Senhora Aparecida é homenageada em um mosaico de concreto levantado ao lado de onde existia o tanque de peixes ornamentais e a cascata também desativada. Nele é possível observar os dois pescadores ajoelhados, a imagem de Nossa Senhora e alguns peixes.
            Luiz acha que o policiamento mais constante amenizaria a onda de vandalismo e de presenças estranhas em alguns horários na praça. Uma vez por semana os idosos se reúnem de manhã para ginástica no local. A academia ao ar livre, instalada há pouco mais de um ano, tem frequência da vizinhança em alguns horários. Quantas vezes Luiz se muniu de líquido e pano para apagar as pixações no local?

            Em determinados horários, moradores de rua usam a plataforma em frente ao mosaico de Nossa Senhora Aparecida para dormir. 





Nas fotos acima, as pedras sobre o local onde havia um tanque
com peixes ornamentais; as escadas formavam uma
cascata; no mosaico, os pescadores que encontraram a imagem
de Nossa Senhora Aparecida e alguns peixes; em alguns horários do dia, a praça é ocupada por moradores de rua

quarta-feira, 29 de julho de 2015

REPORTAGEM – Nadir, testemunha da história do lugar


Ela chegou a Vila Nova, em Londrina,quando tinha 17 anos de idade. Quatro anos depois mudou-se, com os pais, para a casa da esquina das ruas Juruá e Solimões, onde vive há 54 anos - na outra foto, uma parcial da Rua Juruá


         Nadir Rezende Noé estava na flor da idade quando chegou há 60 anos na Vila Nova, em Londrina. Hoje, aos 77 anos de idade, Nadir lembra que nem a Rua Araguaia era calçada em toda a sua extensão. Os paralelepípedos cobriam o trecho entre a Rua Guaporé e o prédio do Albergue Noturno (hoje lar de acolhida de idosos), nas proximidades das ruas Cabo Verde e Jaguaribe. A Cabo Verde liga a Araguaia a Avenida Arcebispo Dom Geraldo Majella e a segunda vai da Araguaia até a Rua Tietê.

            Cinquenta e quatro dos 60 anos no bairro são vividos numa mesma casa, na esquina da Rua Juruá com a Rua Solimões. A construção é de madeira e apesar da idade encontra-se preservada. Tem uma varanda na frente e o muro com portão de grade é sinal que os tempos mudaram. A entrada naquela casa foi no dia 27 de março de 1962 e, por muito tempo a habitação foi cercada com balaústres.
            Nadir nasceu no Estado do Espírito Santo, num lugar chamado Vila Café. Ela é filha de Alcina Tiradentes Rezende e Francisco Dutra de Rezende. Teve apenas um irmão, que faleceu quando estava com 20 anos de idade. O marido de Nadir, José Noé Neto, faleceu há seis anos quando estava com 77 anos de idade.
            O casal teve três filhas e um filho: Celi, Célia, Cenira e Cesar. Celi faleceu no dia 11 de agosto de 2014. São sete netos e três bisnetos, com o quarto anunciando chegada para dezembro.
            Nadir conta nos dedos as pessoas que são antigas no bairro. Dona Claudina, que ajuda o filho, Kino, na oficina de motos da Rua Araguaia; Nico, filho do Seu Chiquinho carroceiro, morador da Rua Juruá, entre outros. Eu, filho da costureira Luiza e do vendedor de doces Dairoku, praticamente nasci vizinho de Nadir. Morei na casa de número 181, uma construção em tábuas envelhecidas com janelas e portas de taramelas, até quando adolescente cheguei aos 16 anos. Mas continuei na Vila Nova, morando na Rua Itajai.

            Sobre as taramelas, ou como a gente dizi, “tramelas”, Nadir relembra. “Para abrir bastava passar uma faca na fresta”, lembra Nadir. Ela também menciona que as cercas de balaústres tinham portões que ficavam presos com arame. A tranquilidade do bairro não pedia mais do que isso.

REPORTAGEM – Futebol num campo e beisebol no outro


Pedacinho da Vila Nova logo abaixo da Rua Araguaia
sediou partidas de competições amadoras e treinos de atletas
da escolas japonesa; hoje só resta um terreno vazio
na quadra do antigo campo




Walter, Denise, Daysi e Mary, filhos de Dairoku e Luiza
e outrora moradores da Rua Juruá, 181, numa casa velha
de tábuas e janelas de taramelas. Os quatro posam no quintal,
em frente à cerca de madeira que separa o terreno
do vizinho, tintureiro

Meninos faziam oito de bicicletas quando não havia rodadas

            Quarto e quinto quarteirões à esquerda, para quem desce a Rua Araguaia, na Vila Nova, em Londrina, a partir da Avenida Rio Branco. Ali estão, respectivamente, as ruas Juruá e Javari. Ambas são curtas, cortadas por duas transversais, a Turiaçu e a Solimões. Nos dois casos, os três quarteirões que formam a Juruá e a Javari ligam duas grandes vias que cortam a Vila Nova de Leste a Oeste, ou, para quem preferir, de Oeste a Leste: a Rua Araguaia e a Rua Tietê. Só que a Araguaia é mais curta. Ela existe da Rio Branco a Guaporé, enquanto a Tietê segue além, atravessando a mesma Guaporé e depois a Bahia, em seguida a São Vicente e muito mais, lá para diante.
            Naquele fechadinho cercado pela Juruá, Javari, Turiaçu e Solimões existiu um campo de futebol, que o pessoal do bairro e de outras localidades chamava de União. Naquele tempo só a Araguaia era calçada com paralelepípedos. O resto era terra, inclusive a Tietê, conhecida como bananal. Nem meio fio existia. Os quintais eram cercados com balaústres. Em muitas das cercas o maracujá doce dava flores cheirosas e depois frutos saborosos que as donas de casas cortavam com facões e davam para as crianças chuparem com colherzinhas. Alguns usavam os dedos mesmos.
            O campo de futebol tinha grama só na banda da Rua Javari. Acima, beirando a Rua Juruá, era um terrão. Alguns adolescentes cujos pais tinham carros, o que era rara naqueles tempos, aproveitavam os finais de semana para dirigir no campo. Meninos que tinham bicicletas brincavam fazendo um oito ali. Outros usavam o local para formar times e disputar partidas. Quando o tamanho das equipes era pequeno, as traves feitas de troncos roliços eram desprezadas e valia como gol as marcações de tijolos.
            Em épocas de temporadas o Campo do União era usado para partidas válidas por torneios oficiais. Vinham times de diferentes bairros, trazendo jogadores de bicicletas, carroças ou caminhões. Como não havia alambrado, vestiários, chuveiros ou outras melhorias, os jogadores e o trio de arbitragem usavam o espaço entre as cercas de madeira e as marcas de pneus das ruas para se trocar. Alguns craques demoravam horas fixando as tornozeleiras com longas faixas.
            Algumas equipes traziam torcidas formadas por esposas, namoradas, filhos e vizinhos. Havia jogos nos sábados e nos domingos e os times usavam uniformes invejados pelos meninos do bairro. Sorveteiros, pipoqueiros e vendedores de amendoim tiravam o dia por ali. Também havia carrinhos de vendedores de laranjas, com aqueles descascadores presos na borda fazendo tiras compridas com as cascas. Em jogos de decisão apareciam os retratistas, que tiravam fotos dos times e de jogadores que encomendavam os monóculos onde se punham os negativos para ver os fotografados.
            Entre a Solimões e a Tietê, também pegando a Juruá e a Javari, existia um meio campo, que era usado por jogadores de beisebol do Nihon Gako (escola japonesa). O estabelecimento funcionava na esquina da Tietê com a Jaguaribe, em barracão de madeira que depois virou o Serviço de Obras Sociais (SOS). Havia final de semana de coincidir o futebol no Campo do União e o treino do beisebol no meio campo ao lado. A escola japonesa também usava o meio campo para festas de confraternizações e o undokai, realizado anualmente, com provas esportivas envolvendo pais e alunos.
            Também naquelas ruas as fábricas de doce eram prósperas. Na Juruá existia a  fábrica de pipoca doce dos Kussano e a fábrica de pirulitos do Seu Valdemar. Aliás, o barracão de alvenaria desta última agora é sedia reunião de um grupo de idosos. Na Javari existia a fábrica de amendoim doce e salgado e de paçoca e doce de leite do Seu Iwamoto. 


segunda-feira, 27 de julho de 2015

REPORTAGEM – Gente boa de um lugar bom (3)

Um bazar e muitas histórias lá no meio da Rua Araguaia

 O casal Maria Tomoe e Yoshimiti Ityama mantém
estabelecimento comercial há 35 anos na Vila Nova. Mas a ligação de ambos com a região é de muito antes.





Nas fotos, Maria e Yoshimiti, no balcão do Bazar Santa Marta, 
e a fachada do estabelecimento comercial, em frente ao muro do antigo Grupo Escolar Nilo Peçanha e do prédio do
Albergue Noturno


            A Água do Quati era de mata virgem e alguns sítios quando Yoshimiti Ityama, hoje com 73 anos de idade, nasceu naquele lugar situado no comecinho da região norte de Londrina. Imaginem então mais para cima, subindo rumo ao atual centro da cidade. A Vila Nova, onde agora Yoshimiti e a esposa, Maria Tomoe Ityama, 71 anos, moram, era uma selva, se é que assim se pode dizer.
            O casal, pais do médico André Yoshio e do advogado Márcio Mitio, mantém há 35 anos o Bazar Santa Marta na Rua Araguaia, quase em frente ao antigo Grupo Escolar Nilo Peçanha, hoje estabelecimento estadual de ensino, e do Albergue Noturno.
            Yoshimiti é filho de Takashi e Torataru Itiyama. Os avós de Yoshimiti, Moto e Ity, abriram a mata aos redores da Água do Quati. Maria também é nativa de Londrina. Os pais delas são da região do Palhano e, no futuro, suas histórias poderão ser pesquisadas por este blog, quando a reportagem encerrar o trabalho na Vila Nova.
            Yoshimiti e Maria se conheceram no Colégio Londrinense, que ficava em frente à pracinha da Rua Quintino Bocaiúva, em área hoje ocupada por um condomínio vertical e obras de levantameto de outros prédios. Os saudosistas não esquecem que ali existia o colossinho do Filadélfia, que além de esporte sediava grandes espetáculos musicais, circences, religiosos e teatrais.
            Já adolescente Yoshimiti foi estudar no antigo Colégio Vicente Rijo, que funcionava na esquina das ruas São Vicente e São Salvador. Anos depois o Vicentão foi para a Avenida Higienópolis, esquina com a Avenida Juscelino Kubitschek, para ceder o espaço para o Colégio Estadual Marcelino Champagnat, no local até hoje e ainda com a arquitetura original.
            “Para ir ao ginásio a gente ia pela linha de trem para não sujar os sapatos”, lembra Yoshimiti. Isso era comum nos tempos em que as enormes composições da RFFSA cortavam o centro de Londrina, onde hoje é a Avenida Arcebispo Dom Geraldo Majella (Leste-Oeste).
            Yoshimiti e Maria também fazem questão de lembrar do Nihon Gaco (escola japonesa), que funcionava onde depois foi transformado em SOS (Serviço de Obras Sociais), na Rua Jaguaribe, uma das transversais da Rua Araguaia. Na mesma Jaguaribe ainda funciona o Clube Recreativo Okinawa, com a sigla ACROL.
            Outro clube japonês, a ACEL (Associação Cultural e Esportiva Londrinense), já teve sede na Rua Guaporé, quase esquina com a Rua Araguaia. Nos carnavais passados, havia bailes carnavalescos inclusive neste clube japonês. Mais acima, na Araguaia, o salão de madeira da extinta AROL, perto da sede da Escola de Samba Unidos Independentes, também reunia centenas de foliões.
            Outra recordação interessante: nos bons tempos o Albergue Noturno abrigava necessitados e em troca, além do apoio e da solidariedade da população de Londrina, recebia obras de reparos, ampliações e manutenções periódicas executadas por detentos do antigo cadeião.